Professor ama ganhar presentes. Coloque um sorriso no rosto do professor: dê presentes. Não espere o dia do professor para realizar homenagens, apenas presenteie. Porém, a história a seguir não é referente ao presente no sentido de tempo, muito menos de algo que se oferece a alguém. Nem de longe é relativo a uma dádiva. O termo presente que iremos tratar é equivalente à presença. A história ocorreu há cerca de dez anos, numa cidadezinha no interior do Ceará. Numa pequena, simples e bastante aconchegante escolinha que atendia crianças e jovens entre seis e catorze anos. Era uma manhã bastante ensolarada. Na verdade, estou usando um eufemismo para descrever o dia mais quente daquele ano. Era um calor infernal. Para os moradores da cidade que fica em uma região de clima semiárido, conviver com altas temperaturas e clima seco é algo muitíssimo corriqueiro. Pois bem, voltando à escolinha estavam na sala da coordenação, o secretário escolar e uma das professoras que aguardava o horário para assumir a turma quando, de repente, adentra na sala um senhor aparentando ter uns cinquenta e dois anos, com um chapéu de palha, de copa alta e aba larga, vestindo calça jeans e blusa cinza. Pelas vestimentas, era possível notar que o mesmo estava trabalhando na lavoura, haja vista a grande quantidade de barro e lama no solado dos sapatos.
— Bom dia! Eu queria falar com a professora do meu filho. Disse o pai.
— O senhor saberia informar o nome da professora do seu filho? Perguntou o secretário escolar.
— Não sei o nome dela, mas ela é uma moreninha, meio gordinha, baixinha que usa óculos e tem os cabelos alisados. Descreveu o pai passando a mão na testa procurando outra característica física que pudesse ajudar na identificação.
— Desculpa, senhor. Mas não existe nenhuma professora com esses traços que senhor descreveu, pontuou a professora. O pai do aluno, mostrando um pouco de frenesi, foi de imediato fazendo a pergunta enquanto apontava o dedo para os dois funcionários.
— Eu quero saber o porquê do meu filho está faltando às aulas. Perguntou o afobado pai.
Estupefatos pela indagação a professora devolveu a questão:
— Eu que pergunto: por que o seu filho está faltando às aulas?
— Olha, minha senhora, vocês que deveriam saber o motivo! O salário dos senhores é para isso: para saber o que os nossos filhos estão fazendo na sala, o que estão aprendendo. Eu passo o dia na roça não tenho como ficar acompanhando, cadê o diário da sala?
É senhores, sabe aquele ditado que diz que você só acredita vendo e vendo você não acredita? Pois é. Assim ficara o secretário escolar e a professora que se entreolharam e quase que por telepatia buscaram uma solução para aquele caso inesperado.
— Qual o nome do seu filho? Com essa informação podemos responder a sua pergunta.
— O nome do meu filho é Aroldo e ele tem 12 anos, respondeu o pai, arrastando a cadeira para sentar e pedindo um copo d´água.
Diante da referência mínima, o nome do aluno, foi possível identificar a sala, o turno e o nome dos professores que lecionaram para o garoto.
— Então, senhor, senhor… como é mesmo o seu nome? Perguntou a professora.
— Antônio, o meu nome é Antônio.
— Então, seu Antônio, o seu filho está assistindo a aula de matemática. Sim, ele
está presente e frequentando às aulas normalmente. Agora eu fiquei curiosa em saber o porquê, você como pai, não sabia dessa informação.
— É porque estou me separando da mãe dele, não vivo mais com ela, estou em outra casa e a senhora sabe que a futrica corre solta e me disseram que ele tava
soltando pipa todos os dias na fazendinha pertinho de onde trabalho. Não tá ajudando a mãe dele e fica dando trabalho na escola. E menino na idade dele não tem que tá farreando no meio da rua. Ele tem somente uma obrigação nesta vida que é de estudar e ser um cidadão! Concluiu o pai, após fazer a reflexão.
Todos ficaram em silêncio na sala. Repentinamente, o pai tirou o chapéu da cabeça, levantou-se da cadeira, pediu licença e em ato de lamentação proferiu a seguinte mensagem:
— Já vou indo, peço desculpa pela forma que cheguei, aperreando vocês, não foi a minha intenção agredir ninguém.
E assim, o carecente homem saiu da sala, atravessou o corredor, abriu o portão, pegou a sua bicicleta e saiu pedalando em busca do seu destino.
Por: Rafaela Sinésio – Espectadora do anfêmero e apreciadora de café adocicado.